terça-feira, 14 de agosto de 2012

Conto 3 - Diários esperados.

Parece estranho, mas dessa vez,
Dedico esse texto a mim mesmo,
com um ar de esperança,
com um som de mar...

Diários Esperados


Dia 7 de janeiro, 2022
.
Gostaria de começar falando um pouco da data, a qual escrevo tudo isso, hoje. Sei que é dia 7 de janeiro porque o réveillon foi na semana passada. Do contrário, ainda acharia que estivesse em Dezembro ou em qualquer outro mês, dia, até mesmo, qualquer ano. Parei de contar tudo isso, porque não fazia mais sentido para eu contar os dias, afinal, eu não tenho dia de pagamento, ou tenho que levantar cedinho para ir trabalhar em algum lugar. Mas isso não quer dizer que eu não tenha um pouco de dinheiro ou um trabalho, na verdade eu os tenho, sim, mas posso os fazer por minha conta. Se eu fosse julgar o dia, mês e ano pelo comprimento de meus cabelos, que caem com tranças castanhas, dreads e ornamentos com penas nas minhas costas, eu diria que estamos em julho de 2035 e foda-se o dia, não iria precisar dele.
        
       Porém, antes de continuar com isso, para passar um pouco de como foi meu dia, eu quero esclarecer os detalhes de como eu sobrevivo. Sou escritor já faz 9 anos. Na verdade, faz 9 anos que eu publiquei através de uma editora gratuita meu primeiro livro, pois considero que sou escritor desde que nasci, e freqüentava a escola, no interior do Estado de São Paulo. Em suma, eu sempre escrevi, e o faço porque amo, acima de, inclusive, ganhar dinheiro – esse pedaço de papel com um número que só faz sentido porque todos resolveram dar sentido a ele, e é o maior causador das desgraças do ser-humano, como uma intolerância religiosa, ele mata mais do que faz sobreviver. Acho importante detalhar isso, afinal foi exatamente essa filosofia que me fez largar tudo e vir morar com minha linda companheira no litoral, longe da civilização tóxica de monóxido de carbono que putrefaz todo aquele povo “civilizado”. Mas, mesmo assim, eu necessito do dinheiro, infelizmente. E tento burlar a sociedade capitalista como faz um artesão de pulseiras, colares, esculturas – aliás eu os faço também.        Eu estendo um pano no chão – às vezes entro na cidade para fazê-lo, quando a coisa pega – e os vendo por R$ 5,00 para crianças, R$ 20,00 para adultos, e em algumas ocasiões deixo a mercê do futuro leitor, pagar quanto ele quiser e então se o preço for generoso, dou uma pulseira ou colar de brinde.
        
Citei logo atrás, que vim com minha companheira para o litoral. Ela praticamente mora no hospital e não, ela não está doente, ela é médica, pode crer? Eu a amo desde minha passada adolescência, quando começamos a namorar, eu tinha dezoito e ela catorze, hoje, dez anos depois eu tenho 27 (pois faço aniversário somente em abril) e ela 23, por fazer aniversário em outubro. Não somos casados por nenhuma instituição que decrete isso, somos única e exclusivamente (com direito a risos e uma batida de bateria), “amorados”, que foi uma palavra que criei para melhor distinguir o fato de nos amarmos e estarmos juntos sem escrúpulos morais, institucionais ou sociais metendo o bedelho no meio. Fiz um trato com ela. Ela moraria na mesma cidade que eu, trabalhando no que se formou, às vezes dormindo num hospital ou na casa de alguém e viria me visitar na praia quando pudesse, quando quisesse, quando sentisse saudades, porque, afinal, eu não tenho uma casa. O mundo a é para mim. Moro na casa dos bobos, número zero. O mar que nesse momento da noite, manda furiosas ondas banhando a margem da areia, a areia abaixo de meu corpo está tão fria como o céu pouco estrelado lá em cima, e essa brisa de chuva e o ar salgado. Isso é minha casa e vivo assim. Não há problemas de desconfiança perante ela por minha parte. Porque, afinal eu a amo e basta para mim estar com ela e eu não posso ser traído, afinal, trata-se de um amor livre. Dá para sacar isso? Não tem problema se não der, às vezes nem mesmo eu entendo como funciona minha cabeça maluca.
        
        
Acho que já dei explicações o suficiente para demonstrar como eu vivo e sobrevivo. Então, tratarei de resumir meu dia nessas letrinhas ao começar pela hora que despertei.
        
Eu como quase sempre, me abrigo em baixo daquelas barraquinhas que vende coco, sabe? Conheço o dono e ele não tem problemas em me deixar lá. É leitor de meus livros e eu troco o abrigo por satisfazê-lo nas leituras diárias, que ele considera bem divertidas.
        
Hoje acordei com a porta da tenda abrindo. Eu tinha fumado um bec para dormir à noite e acordei ainda um tanto lesado, o THC fluindo no meu corpo. Dei bom dia, ao dono, me retirei da tenda e fui me aconchegar com meu cobertor na areia, o sol, aos poucos, estava esquentando o dia, nascendo no horizonte, uma bola de fogo laranja, pálida, desenhando um reflexo turvo na água. Observei isso por alguns minutos, não, na verdade, por alguns segundos e voltei a dormir no agradável som das ondas, no fresco calor do sol, na macia areia abaixo de mim. Dormi, e como me acontece desde 2012, sonhei com algumas coisas bizarras que agora não me lembro, mas que era bom sonhar.
        
Fui despertar novamente quando o sol já incomodava e já havia diversas pessoas visitando a praia. Nessa altura do ano, a praia é bem movimentada, e consigo vender mais que o normal os livros que escrevo, e os artesanatos que faço, consigo comer melhor e faço várias amizades com pessoas de muito longe, ou muito perto.
        
 Levantei e tratei de ir tomar um banho de mar, deixei minhas coisas na tenda, no cantinho, retirei minha roupa e entrei na água. Ainda estava um pouco fria, mas uma delícia mesmo assim. Fiquei por alguns minutos por ali, me salgando, me banhando. Saí do mar, me sequei, vesti roupas limpas, peguei minhas coisas, andei por uma área mais movimentada da praia, cumprimentei o salva-vidas, que queria muito ser advogado, estendi o pano, coloquei os trampos em cima e aguardei. Uma tática para chamar atenção, que eu uso, é pegar o violino e tocar alguma música, as pessoas ficam observando, e imaginando o que diabos um doido barbado, com cabelos enormes nas costas, com uma roupa surrada faz tocando melodias na praia. Eu geralmente pego o violino ou uma flauta que consegui de um camarada que sobrevivia assim como eu, longe da sociedade, e toco uma música alegre perambulando em volta dos meus trampos. A galera curte isso e se aproxima. Alguns deixam moedas, e os mais generosos largam notas de 10 reais. Os que largam notas de 20, dou algum presente de gratidão.
        
Vieram uns adolescentes alguns pais com suas crianças ouvir de perto eu tocar. Quando parei, eles aplaudiram e fiz uma reverência a todos eles.
        
- Obrigado, obrigado – disse eu em meio às palmas. Geralmente faço um teatrinho, para soar mais carismático. – Ora, prazer em conhecê-los! – digo eu cumprimentando cada um deles, com a mão. – Eu me chamo Klaus e estou direto por aqui. Fiquem à vontade, podem pegar na mão se quiserem, os livros foram eu que escrevi, vocês podem pagar o quanto quiserem neles, com um preço mínimo de 5 reais, e máximo de 20 para não assustar o freguês – digo eu e solto uma risada.
        
Eles começam a olhar os trampos. Uma adolescente vestida de biquíni, enrolada numa toalha veio até nós, provavelmente a namorada do adolescente que estava passando as mãos nas pulseiras. Ela se aproximou eu fiz menção em dar as boas vindas para ela.
        
- Pode tirar o livro do plástico se quiser. Eu encapo eles para não sujar de areia. Esse que você está na mão, se me permite dizer, foi meu primeiro livro, comecei a escrevê-lo quando estava no segundo colegial e o terminei no segundo ano da faculdade. É um conto de fadas... Imagine você, uma rainha, há muito tempo atrás, que de tão branca, tão branca acaba por desaparecer.
        
- Nossa – disse ela. O garoto levantou e perguntou quanto ficava uma pulseira verde, azul e branca, eu disse que quatro reais, mas fazia por três, mas se não tivesse trocado fazia por dois. Eu sempre faço isso, é uma maneira de vender. – Ou se quiser – completei para ele – pode me comprar um almoço e te dou a pulseira e um livro. Sabe, brother, é assim que eu sobrevivo, pode crer?
        
        
Os adultos também me observavam, e olhavam os artesanatos.
- Vou ficar com esse colar, quanto é? – perguntou-me a mulher com aquela saia leve, florida.
- Fica dez reais essa, mas faço por 5. Eu sempre coloco um preço máximo e um preço mínimo, sabe? Pague quanto quiser por ela.- Abro um sorriso. O silêncio toma o lugar, mas não posso deixar o clima esfriar. – Parece que vai chover, hein? Vocês são de onde?
Agora não me lembro direito de onde eles vieram, mas sei que visitei, já, a cidade de dois deles.
- Oh, sim. Que massa. Estão só passando as férias para cá? Dando uma curtida? Pegando a onda?
- Tomando uma cervejinha e vendo a mulherada – me responde o adolescente, que me dá o dinheiro da pulseira. Dou um sorriso, a menina fez uma careta ao que ele disse isso.
- Vocês são irmãos?
- Aham – disse ela.
- Ah, pode crer – e solto outra risada. – Por um instante achei que fossem namorados, fiquei até meio receoso de te elogiar. Você é linda.
Ela enrubesceu um pouco, porque não esperava isso. Então me prontifiquei a retirar o duplo sentido.
- Não to dando em cima de você, eu tenho o amor da minha vida, só estou dizendo porque você é mesmo.
Dessa vez ela abriu um sorriso:
- Obrigada.
- De nada – respondi prontamente com um sorriso.
A mulher me deu os dez reais do colar.
- Muito obrigado, vai salvar meu dia hoje com o almoço.
Logo menos, todos se distanciaram. Percebi que o céu estava começando a ficar cheio de nuvens brancas, não iria chover, ainda. O sol estava na altura que julguei ser onze e meia, atrás das nuvens, dando um clima confortável e voltei aos afazeres do dia.
Fiz quatro pulseiras e cansei. Me levantei estiquei o corpo e voltei a tocar para chamar atenção. Geralmente, a essa hora do dia, a praia fica um pouco menos cheia, por causa do almoço e por causa do apogeu do sol, que é mesmo, muito insuportável. Mas, como ainda havia pessoas por lá, resolvi voltar à atração do meu ganha pão, que Jah, me proporcionou.
Antes de prosseguir, aproveitando a deixa de que mencionei Jah, gostaria de falar um pouco sobre minha fé.
Desde os quatorze, para quinze anos, parei de acreditar em deus, porque era apenas uma herança familiar. Meus pais eram evangélicos e nasci e fui criado dentro da doutrina cristã, porém, sempre fui cético quanto ao maravilhoso, quanto aos milagres, e pesquisei fatos, que comprovassem a existência de tudo aquilo. O resultado foi meu ateísmo, pois, não tenho fé numa divindade, em algo que só pode ser acreditado vindo no cerne pessoal de cada um, se é que consigo explicar isso. Não há, até onde eu saiba, qualquer comprovação de que Jesus realmente tenha existido, muito menos, portanto, de que ele tenha feito milagres e muito menos portanto de que ele era filho de deus, e muito menos portanto de que deus existe. Para mim, é plausível tudo isso, o que ficou ainda mais claro, quando me formei em história, há alguns anos atrás.
Jah, para mim, existe, num plano metafórico, saca? É o folclore de todos que curtem dar uns pegas num baseado. Apenas isso. Sem prostrações de joelhos, sem hierarquia, somente eu e Jah, Gaia, a natureza que me dá um lar.
Mas voltando ao meu dia, vendi um livro, três pulseiras, dois colares e resolvi ir comer alguma coisa. Fui até a tenda que uso para dormir, pedi um lanche, voltei para onde meus trampos estavam e fiquei comendo por lá. Como estava um calor do caralho, voltei e pedi para o dono da tenda um guarda-sol emprestado. Eu pegava tanto aquele guarda-sol, que ele logo menos, me daria ele, para não ter que ir ficar pedindo todos os dias.
Fiquei curtindo o dia, fiz dois apanhadores de sonho, toquei mais um pouco e consegui vender outras duas pulseiras, com uma mensagem gravada. Embora eu não acredite em deus, eu faço uns trampos com mensagens bíblicas para conseguir vender mais e consigo com isso.
Mais para o começo do fim da tarde, umas 16h00, sou surpreendido pela mulher mais linda de todas vindo até minha barraquinha.
- Oi – disse ela, estava usando um vestido florido, que ia até o pé, levava consigo uma mochila pesada, provavelmente trouxera consigo uma barraca, porque ela odeia dormir na areia às vezes.
Só a voz dela fazia meu corpo estremecer de ansiedade. Me virei e  a vi, levantei e dei um abraço bem forte nela.
- Como você está? – perguntei.
- Bem. E você? – me disse ela.
- Ótimo! Melhor agora. Vendi algumas coisas hoje.
- Você comeu?
- Aham. Quer me dar uma forcinha ou você já precisa ir?
- Não. Eu vou ter a semana de folga. Quero ficar com você.
Abri um sorriso. Cara, ela não sabe o quanto ela consegue me deixar feliz.
- Sente-se – disse para ela.
Ela se sentou ao meu lado e pediu as linhas para me ajudar a fazer mais algumas coisas.
- Só se você me der um beijo.
Ela se aproximou e beijou meus lábios, a beijei mais vezes, e dei um beijo de língua nela. Assim que paramos, tinha um homem na nossa frente olhando as coisas.
- Opa! Pois não. Fique à vontade.
- Oi – disse Isabelle.
Passei as linhas para ela e ela começou a trançá-las.
- Quanto que fica essa pulseira? – ele apontou para um bracelete verde, vermelho e amarelo, com um símbolo da paz .
- Faço por dez, brother, mas se ficar muito caro faço por sete, e se ainda ficar caro deixo por cinco.
 Ele estava sem camisa, apenas utilizando uma bermuda, e usava óculos escuros, tinha o cabelo preto, com um sotaque local. Retirou uma carteira de couro sintético do bolso inferior da bermuda – que estava um pouco úmida e me deu sete conto.
- Aí sim, hein? Quer que eu amarre, brother?
- Não. É para meu filho.
- Pode crer. Como é seu nome?
- Marcos.
- Prazer marcos. Aquele abraço. Paz de Jah.- disse eu fazendo o gesto da paz com as mãos.
- Tchau – disse Isabelle, saindo do transe que estava, na metade da pulseira.
- Ah, que bom que você veio – disse eu para ela. – Estava com saudades, já.
- Eu também estava com saudades – disse-me ela. Me aproximei e dei outro selinho nela.
A praia ao redor de nós estava mais cheia, o sol não estava tão carregado, algumas crianças se banhavam no mar. Olhei para minha esquerda e vi o pessoal desmontando a rede do vôlei, e vi algumas famílias reunindo as coisas para deixarem a praia.
Aproveitei a oportunidade, e fui tocar mais um pouco para atrair aqueles que perambulavam por lá, a caminho da cidade.
  Eu sempre toco ou uma música linda, ou uma música agitada, às vezes toco um Led Zeppelin e consigo atrair uma galera legal, que inclusive curte ler. Dessa vez, vieram uns caras, dois deles tinha os cabelos compridos e um terceiro estava com uma prancha grande.
- E aí moçada. Só dando uns roles, curtindo as ondas?
- É! Curtindo a praia. – falou um deles. – Curti o som.
- Led manda, né? Eu to ligado. Às vezes colam uns malucos aqui com violão, a gente manda um som, fuma um bec, pode crer?
Eles deram risada.
- Pode crer – me disse o mais cabeludo.
- Vocês fumam?
- Eles fumam, eu não. Falou o outro cabeludo apontando para o surfista e para o cara ao lado dele.
- Pô, achei que os dois cabelo que curtiam. Querem fumar um agora? Ou tão suave?
- Bora, então! Acende aí.
Convidei eles para sentar. Na praia é a coisa mais suave do mundo fumar um. Às vezes encanam por cauda das crianças, mas como o bagulho já ta descriminalizado, perto de legalizar, a gente dá um trato, saca?
Acendi um que tinha pronto na noite anterior. Puxei alguns pegas passei para Isabelle, ela deu uns pegas e prosseguiu a roda.
Geralmente, quando estou chapado, me torno um protetor da sociedade comunista, e parto para cima do capitalismo. Comecei a conversar com eles sobre as injustiças do mundo, sobre o amor prevalecer, sobre o que me fez largar o mundo hipotecado e viver na natureza, todo o discurso que a Isabelle estava cansada de escutar desde quando começamos a namorar, porém com algumas opiniões mais amadurecidas. Falei para eles que eu sou formado, que sou escritor, mostrei os livros para eles, peguei o bec e me silenciei um instante, a fumaça subia preguiçosamente, zanzando junto aos tufões que iam em sentido contrário ao mar, subindo a densa fumaça perfumada.
- Pode crer? – falei prensando a fumaça, passando o bec, para sua segunda volta na roda. – Mas deixa disso, o negócio agora é curtir a brisa, né amor?
Ela soltou a fumaça pelo nariz. Eu ri da cara ela e os caras riram também. Na terceira volta, o camarada cabeludo se serviu do bec.
- Aí, desculpa perguntar, mas qual é o nome de vocês?
Eles ficaram me olhando.
- Vocês ainda não me disseram seus nomes, né? Se sim, desculpa, porque eu já to muito louco.
Eles riram.
- Ainda não.
- Menos mal – disse Isabelle.
- Meu nome é Pedro – falou o cara da prancha. – O dele é Cauã, e ele é o Edmundo.
- Como?
- Edmundo.
- Eu que devia me chamar Edmundo. Porque eu sou do mundo. Ráá – dei risada da minha própria piada ruim. Eles riram junto. Eu estava muito chapado.
- E o seu nome como é? – me perguntou o Edmundo, eu acho, ou teria sido o Cauã? Enfim.
- Meu nome é Klaus, prazer. O dela é Isabelle.
- Prazer – disse ela.
O bec acabou e deixamos a ponta pra Jah. Já estava perto das 18h00, o sol se pondo e os caras estavam com uma preguiça de irem embora.
- Fiquem aí, trocando idéia. – disse eu.
- Precisamos mesmo ir.
- Ah, pode crer – falei me levantando, Isabelle se levantou comigo para se despedir dos camaradas.
Pegueis três pulseiras e dei uma de presente para cada. O Pedro, se não me engano, o cara da prancha, me deu cincão e eu disse que não precisava, mas ele insistiu, e fiquei com a grana do cara. Aquilo pagaria o bec, talvez. Não sei ao certo porque ele me deu a grana. Me despedi deles com um abraço e cada um e um forte aperto de mão.
- Colem aí amanhã. Estarei... –olhei para Isabelle que se despedia de um dos cabeludos – Estaremos aqui amanhã, amanhã, hien?
Aí eu conto para vocês a história dos meus livros, e quem sabe vocês não curtem e levam um.
- Pode deixar. Amanhã colaremos aí com uma grana.
- Demorou, então, brother. Fiquem na paz. Prazer em conhecê-los.
Eles foram embora, e o dia estava começando a ir embora. Embrulhei tudo e ainda continuamos ali no nosso espaço vendo o crepúsculo. Senti uma pontada de emoção e meus olhos se umedeceram mais que o normal, eu não iria chorar, mas estava emocionado.
- Se lembra quando a gente imaginava viver isso juntos, quando a gente começou a namorar?
- Aham... – ela me disse.
- É tudo real... – eu falei e fui me abraçar junto com ela. Cheguei para perto de sua orelha e repeti: - é tudo real. – Dei um beijo no ombro dela e ficamos ali. Ela olhava para o nada como tinha maneira de fazer desde que a conheci. – Agora você tem uma desculpa para esse seu estado meditativo – disse a ela.
- Como assim? – ela me perguntou.
- Você pode olhar o sol se por, acho que foi para isso que você tem essa coisa, é para ver o sol se por, ou o sol nascer.
Ela deu um sorriso silencioso. Continuei abraçado com ela. E a apartei. Ela virou o rosto para mim. Seus olhos castanhos eram tão precisos, tão exatos, que não negava ser uma cirurgiã. Dei um beijo nela de língua, e nos deitamos na areia.
Depois comemos algo que ela trouxe, porque ficamos com uma baita de uma fome, comi duas maçãs e ela um lanche com pão francês, o qual dei algumas mordidas. O tempo passava lentamente quando eu estava com ela, mas com uma intensidade assustadora.
Acabamos de fazer amor. Ela está deitada ao meu lado dormindo agora, porque estava um pouco chapada. Aproveitei a brisa e comecei a escrever essas páginas que já passam do limite. Já devem ser meia-noite, minha mão está doendo, a lua se paira no céu, minguante ou crescente, não tenho certeza, o mar engole mais a praia que o comum, e já é hora de dormir. Vou acordar Isa e vamos montar a barraca que ela trouxe. Porque, amanhã é mais um dia para se curtir a liberdade.

Boa noite. 

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