Parece estranho, mas dessa vez,
Dedico esse texto a mim mesmo,
com um ar de esperança,
com um som de mar...
Diários Esperados
Dia 7 de janeiro, 2022
.
Gostaria
de começar falando um pouco da data, a qual escrevo tudo isso, hoje. Sei que é
dia 7 de janeiro porque o réveillon foi na semana passada. Do contrário, ainda
acharia que estivesse em Dezembro ou em qualquer outro mês, dia, até mesmo,
qualquer ano. Parei de contar tudo isso, porque não fazia mais sentido para eu
contar os dias, afinal, eu não tenho dia de pagamento, ou tenho que levantar
cedinho para ir trabalhar em algum lugar. Mas isso não quer dizer que eu não
tenha um pouco de dinheiro ou um trabalho, na verdade eu os tenho, sim, mas
posso os fazer por minha conta. Se eu fosse julgar o dia, mês e ano pelo
comprimento de meus cabelos, que caem com tranças castanhas, dreads e
ornamentos com penas nas minhas costas, eu diria que estamos em julho de 2035 e
foda-se o dia, não iria precisar dele.
Porém, antes de continuar com isso, para passar
um pouco de como foi meu dia, eu quero esclarecer os detalhes de como eu sobrevivo.
Sou escritor já faz 9 anos. Na verdade, faz 9 anos que eu publiquei através de
uma editora gratuita meu primeiro livro, pois considero que sou escritor desde
que nasci, e freqüentava a escola, no interior do Estado de São Paulo. Em suma,
eu sempre escrevi, e o faço porque amo, acima de, inclusive, ganhar dinheiro –
esse pedaço de papel com um número que só faz sentido porque todos resolveram
dar sentido a ele, e é o maior causador das desgraças do ser-humano, como uma
intolerância religiosa, ele mata mais do que faz sobreviver. Acho importante
detalhar isso, afinal foi exatamente essa filosofia que me fez largar tudo e
vir morar com minha linda companheira no litoral, longe da civilização tóxica
de monóxido de carbono que putrefaz todo aquele povo “civilizado”. Mas, mesmo
assim, eu necessito do dinheiro, infelizmente. E tento burlar a sociedade
capitalista como faz um artesão de pulseiras, colares, esculturas – aliás eu os
faço também. Eu estendo um pano no chão – às vezes entro na cidade para
fazê-lo, quando a coisa pega – e os vendo por R$ 5,00 para crianças, R$ 20,00
para adultos, e em algumas ocasiões deixo a mercê do futuro leitor, pagar
quanto ele quiser e então se o preço for generoso, dou uma pulseira ou colar de
brinde.
Citei logo atrás, que vim com minha companheira
para o litoral. Ela praticamente mora no hospital e não, ela não está doente,
ela é médica, pode crer? Eu a amo desde minha passada adolescência, quando
começamos a namorar, eu tinha dezoito e ela catorze, hoje, dez anos depois eu
tenho 27 (pois faço aniversário somente em abril) e ela 23, por fazer
aniversário em outubro. Não somos casados por nenhuma instituição que decrete
isso, somos única e exclusivamente (com direito a risos e uma batida de
bateria), “amorados”, que foi uma palavra que criei para melhor distinguir o
fato de nos amarmos e estarmos juntos sem escrúpulos morais, institucionais ou
sociais metendo o bedelho no meio. Fiz um trato com ela. Ela moraria na mesma
cidade que eu, trabalhando no que se formou, às vezes dormindo num hospital ou
na casa de alguém e viria me visitar na praia quando pudesse, quando quisesse,
quando sentisse saudades, porque, afinal, eu não tenho uma casa. O mundo a é
para mim. Moro na casa dos bobos, número zero. O mar que nesse momento da
noite, manda furiosas ondas banhando a margem da areia, a areia abaixo de meu
corpo está tão fria como o céu pouco estrelado lá em cima, e essa brisa de
chuva e o ar salgado. Isso é minha casa e vivo assim. Não há problemas de
desconfiança perante ela por minha parte. Porque, afinal eu a amo e basta para
mim estar com ela e eu não posso ser traído, afinal, trata-se de um amor livre.
Dá para sacar isso? Não tem problema se não der, às vezes nem mesmo eu entendo
como funciona minha cabeça maluca.
Acho que já dei explicações o suficiente para
demonstrar como eu vivo e sobrevivo. Então, tratarei de resumir meu dia nessas
letrinhas ao começar pela hora que despertei.
Eu como quase sempre, me abrigo em baixo
daquelas barraquinhas que vende coco, sabe? Conheço o dono e ele não tem problemas
em me deixar lá. É leitor de meus livros e eu troco o abrigo por satisfazê-lo
nas leituras diárias, que ele considera bem divertidas.
Hoje acordei com a porta da tenda abrindo. Eu
tinha fumado um bec para dormir à noite e acordei ainda um tanto lesado, o THC
fluindo no meu corpo. Dei bom dia, ao dono, me retirei da tenda e fui me
aconchegar com meu cobertor na areia, o sol, aos poucos, estava esquentando o
dia, nascendo no horizonte, uma bola de fogo laranja, pálida, desenhando um
reflexo turvo na água. Observei isso por alguns minutos, não, na verdade, por
alguns segundos e voltei a dormir no agradável som das ondas, no fresco calor
do sol, na macia areia abaixo de mim. Dormi, e como me acontece desde 2012,
sonhei com algumas coisas bizarras que agora não me lembro, mas que era bom
sonhar.
Fui despertar novamente quando o sol já
incomodava e já havia diversas pessoas visitando a praia. Nessa altura do ano,
a praia é bem movimentada, e consigo vender mais que o normal os livros que
escrevo, e os artesanatos que faço, consigo comer melhor e faço várias amizades
com pessoas de muito longe, ou muito perto.
Levantei e tratei de ir tomar um banho de mar, deixei minhas
coisas na tenda, no cantinho, retirei minha roupa e entrei na água. Ainda
estava um pouco fria, mas uma delícia mesmo assim. Fiquei por alguns minutos
por ali, me salgando, me banhando. Saí do mar, me sequei, vesti roupas limpas,
peguei minhas coisas, andei por uma área mais movimentada da praia,
cumprimentei o salva-vidas, que queria muito ser advogado, estendi o pano,
coloquei os trampos em cima e aguardei. Uma tática para chamar atenção, que eu
uso, é pegar o violino e tocar alguma música, as pessoas ficam observando, e imaginando
o que diabos um doido barbado, com cabelos enormes nas costas, com uma roupa
surrada faz tocando melodias na praia. Eu geralmente pego o violino ou uma
flauta que consegui de um camarada que sobrevivia assim como eu, longe da
sociedade, e toco uma música alegre perambulando em volta dos meus trampos. A
galera curte isso e se aproxima. Alguns deixam moedas, e os mais generosos
largam notas de 10 reais. Os que largam notas de 20, dou algum presente de
gratidão.
Vieram uns adolescentes alguns pais com suas
crianças ouvir de perto eu tocar. Quando parei, eles aplaudiram e fiz uma
reverência a todos eles.
- Obrigado, obrigado – disse eu em meio às
palmas. Geralmente faço um teatrinho, para soar mais carismático. – Ora, prazer
em conhecê-los! – digo eu cumprimentando cada um deles, com a mão. – Eu me
chamo Klaus e estou direto por aqui. Fiquem à vontade, podem pegar na mão se
quiserem, os livros foram eu que escrevi, vocês podem pagar o quanto quiserem
neles, com um preço mínimo de 5 reais, e máximo de 20 para não assustar o
freguês – digo eu e solto uma risada.
Eles começam a olhar os trampos. Uma
adolescente vestida de biquíni, enrolada numa toalha veio até nós,
provavelmente a namorada do adolescente que estava passando as mãos nas
pulseiras. Ela se aproximou eu fiz menção em dar as boas vindas para ela.
- Pode tirar o livro do plástico se quiser. Eu
encapo eles para não sujar de areia. Esse que você está na mão, se me permite
dizer, foi meu primeiro livro, comecei a escrevê-lo quando estava no segundo
colegial e o terminei no segundo ano da faculdade. É um conto de fadas...
Imagine você, uma rainha, há muito tempo atrás, que de tão branca, tão branca
acaba por desaparecer.
- Nossa – disse ela. O garoto levantou e
perguntou quanto ficava uma pulseira verde, azul e branca, eu disse que quatro
reais, mas fazia por três, mas se não tivesse trocado fazia por dois. Eu sempre
faço isso, é uma maneira de vender. – Ou se quiser – completei para ele – pode
me comprar um almoço e te dou a pulseira e um livro. Sabe, brother, é assim que
eu sobrevivo, pode crer?
Os adultos também me observavam, e olhavam os
artesanatos.
- Vou ficar com esse colar, quanto é? –
perguntou-me a mulher com aquela saia leve, florida.
- Fica dez reais essa, mas faço por 5. Eu
sempre coloco um preço máximo e um preço mínimo, sabe? Pague quanto quiser por
ela.- Abro um sorriso. O silêncio toma o lugar, mas não posso deixar o clima
esfriar. – Parece que vai chover, hein? Vocês são de onde?
Agora não me lembro direito de onde eles
vieram, mas sei que visitei, já, a cidade de dois deles.
- Oh, sim. Que massa. Estão só passando as
férias para cá? Dando uma curtida? Pegando a onda?
- Tomando uma cervejinha e vendo a mulherada –
me responde o adolescente, que me dá o dinheiro da pulseira. Dou um sorriso, a
menina fez uma careta ao que ele disse isso.
- Vocês são irmãos?
- Aham – disse ela.
- Ah, pode crer – e solto outra risada. – Por
um instante achei que fossem namorados, fiquei até meio receoso de te elogiar.
Você é linda.
Ela enrubesceu um pouco, porque não esperava
isso. Então me prontifiquei a retirar o duplo sentido.
- Não to dando em cima de você, eu tenho o amor
da minha vida, só estou dizendo porque você é mesmo.
Dessa vez ela abriu um sorriso:
- Obrigada.
- De nada – respondi prontamente com um
sorriso.
A mulher me deu os dez reais do colar.
- Muito obrigado, vai salvar meu dia hoje com o
almoço.
Logo menos, todos se distanciaram. Percebi que
o céu estava começando a ficar cheio de nuvens brancas, não iria chover, ainda.
O sol estava na altura que julguei ser onze e meia, atrás das nuvens, dando um
clima confortável e voltei aos afazeres do dia.
Fiz quatro pulseiras e cansei. Me levantei
estiquei o corpo e voltei a tocar para chamar atenção. Geralmente, a essa hora
do dia, a praia fica um pouco menos cheia, por causa do almoço e por causa do
apogeu do sol, que é mesmo, muito insuportável. Mas, como ainda havia pessoas
por lá, resolvi voltar à atração do meu ganha pão, que Jah, me proporcionou.
Antes de prosseguir, aproveitando a deixa de
que mencionei Jah, gostaria de falar um pouco sobre minha fé.
Desde os quatorze, para quinze anos, parei de
acreditar em deus, porque era apenas uma herança familiar. Meus pais eram evangélicos
e nasci e fui criado dentro da doutrina cristã, porém, sempre fui cético quanto
ao maravilhoso, quanto aos milagres, e pesquisei fatos, que comprovassem a
existência de tudo aquilo. O resultado foi meu ateísmo, pois, não tenho fé numa
divindade, em algo que só pode ser acreditado vindo no cerne pessoal de cada
um, se é que consigo explicar isso. Não há, até onde eu saiba, qualquer comprovação
de que Jesus realmente tenha existido, muito menos, portanto, de que ele tenha
feito milagres e muito menos portanto de que ele era filho de deus, e muito
menos portanto de que deus existe. Para mim, é plausível tudo isso, o que ficou
ainda mais claro, quando me formei em história, há alguns anos atrás.
Jah, para mim, existe, num plano metafórico,
saca? É o folclore de todos que curtem dar uns pegas num baseado. Apenas isso.
Sem prostrações de joelhos, sem hierarquia, somente eu e Jah, Gaia, a natureza
que me dá um lar.
Mas voltando ao meu dia, vendi um livro, três
pulseiras, dois colares e resolvi ir comer alguma coisa. Fui até a tenda que
uso para dormir, pedi um lanche, voltei para onde meus trampos estavam e fiquei
comendo por lá. Como estava um calor do caralho, voltei e pedi para o dono da
tenda um guarda-sol emprestado. Eu pegava tanto aquele guarda-sol, que ele logo
menos, me daria ele, para não ter que ir ficar pedindo todos os dias.
Fiquei curtindo o dia, fiz dois apanhadores de
sonho, toquei mais um pouco e consegui vender outras duas pulseiras, com uma
mensagem gravada. Embora eu não acredite em deus, eu faço uns trampos com
mensagens bíblicas para conseguir vender mais e consigo com isso.
Mais para o começo do fim da tarde, umas 16h00,
sou surpreendido pela mulher mais linda de todas vindo até minha barraquinha.
- Oi – disse ela, estava usando um vestido
florido, que ia até o pé, levava consigo uma mochila pesada, provavelmente
trouxera consigo uma barraca, porque ela odeia dormir na areia às vezes.
Só a voz dela fazia meu corpo estremecer de
ansiedade. Me virei e a vi,
levantei e dei um abraço bem forte nela.
- Como você está? – perguntei.
- Bem. E você? – me disse ela.
- Ótimo! Melhor agora. Vendi algumas coisas
hoje.
- Você comeu?
- Aham. Quer me dar uma forcinha ou você já
precisa ir?
- Não. Eu vou ter a semana de folga. Quero
ficar com você.
Abri um sorriso. Cara, ela não sabe o quanto
ela consegue me deixar feliz.
- Sente-se – disse para ela.
Ela se sentou ao meu lado e pediu as linhas
para me ajudar a fazer mais algumas coisas.
- Só se você me der um beijo.
Ela se aproximou e beijou meus lábios, a beijei
mais vezes, e dei um beijo de língua nela. Assim que paramos, tinha um homem na
nossa frente olhando as coisas.
- Opa! Pois não. Fique à vontade.
- Oi – disse Isabelle.
Passei as linhas para ela e ela começou a
trançá-las.
- Quanto que fica essa pulseira? – ele apontou
para um bracelete verde, vermelho e amarelo, com um símbolo da paz .
- Faço por dez, brother, mas se ficar muito
caro faço por sete, e se ainda ficar caro deixo por cinco.
Ele estava sem camisa, apenas utilizando uma bermuda, e usava
óculos escuros, tinha o cabelo preto, com um sotaque local. Retirou uma
carteira de couro sintético do bolso inferior da bermuda – que estava um pouco
úmida e me deu sete conto.
- Aí sim, hein? Quer que eu amarre, brother?
- Não. É para meu filho.
- Pode crer. Como é seu nome?
- Marcos.
- Prazer marcos. Aquele abraço. Paz de Jah.-
disse eu fazendo o gesto da paz com as mãos.
- Tchau – disse Isabelle, saindo do transe que
estava, na metade da pulseira.
- Ah, que bom que você veio – disse eu para
ela. – Estava com saudades, já.
- Eu também estava com saudades – disse-me ela.
Me aproximei e dei outro selinho nela.
A praia ao redor de nós estava mais cheia, o
sol não estava tão carregado, algumas crianças se banhavam no mar. Olhei para
minha esquerda e vi o pessoal desmontando a rede do vôlei, e vi algumas
famílias reunindo as coisas para deixarem a praia.
Aproveitei a oportunidade, e fui tocar mais um
pouco para atrair aqueles que perambulavam por lá, a caminho da cidade.
Eu
sempre toco ou uma música linda, ou uma música agitada, às vezes toco um Led
Zeppelin e consigo atrair uma galera legal, que inclusive curte ler. Dessa vez,
vieram uns caras, dois deles tinha os cabelos compridos e um terceiro estava
com uma prancha grande.
- E aí moçada. Só dando uns roles, curtindo as
ondas?
- É! Curtindo a praia. – falou um deles. –
Curti o som.
- Led manda, né? Eu to ligado. Às vezes colam
uns malucos aqui com violão, a gente manda um som, fuma um bec, pode crer?
Eles deram risada.
- Pode crer – me disse o mais cabeludo.
- Vocês fumam?
- Eles fumam, eu não. Falou o outro cabeludo
apontando para o surfista e para o cara ao lado dele.
- Pô, achei que os dois cabelo que curtiam.
Querem fumar um agora? Ou tão suave?
- Bora, então! Acende aí.
Convidei eles para sentar. Na praia é a coisa
mais suave do mundo fumar um. Às vezes encanam por cauda das crianças, mas como
o bagulho já ta descriminalizado, perto de legalizar, a gente dá um trato,
saca?
Acendi um que tinha pronto na noite anterior.
Puxei alguns pegas passei para Isabelle, ela deu uns pegas e prosseguiu a roda.
Geralmente, quando estou chapado, me torno um
protetor da sociedade comunista, e parto para cima do capitalismo. Comecei a
conversar com eles sobre as injustiças do mundo, sobre o amor prevalecer, sobre
o que me fez largar o mundo hipotecado e viver na natureza, todo o discurso que
a Isabelle estava cansada de escutar desde quando começamos a namorar, porém
com algumas opiniões mais amadurecidas. Falei para eles que eu sou formado, que
sou escritor, mostrei os livros para eles, peguei o bec e me silenciei um
instante, a fumaça subia preguiçosamente, zanzando junto aos tufões que iam em
sentido contrário ao mar, subindo a densa fumaça perfumada.
- Pode crer? – falei prensando a fumaça,
passando o bec, para sua segunda volta na roda. – Mas deixa disso, o negócio
agora é curtir a brisa, né amor?
Ela soltou a fumaça pelo nariz. Eu ri da cara
ela e os caras riram também. Na terceira volta, o camarada cabeludo se serviu
do bec.
- Aí, desculpa perguntar, mas qual é o nome de
vocês?
Eles ficaram me olhando.
- Vocês ainda não me disseram seus nomes, né?
Se sim, desculpa, porque eu já to muito louco.
Eles riram.
- Ainda não.
- Menos mal – disse Isabelle.
- Meu nome é Pedro – falou o cara da prancha. –
O dele é Cauã, e ele é o Edmundo.
- Como?
- Edmundo.
- Eu que devia me chamar Edmundo. Porque eu sou
do mundo. Ráá – dei risada da minha própria piada ruim. Eles riram junto. Eu
estava muito chapado.
- E o seu nome como é? – me perguntou o
Edmundo, eu acho, ou teria sido o Cauã? Enfim.
- Meu nome é Klaus, prazer. O dela é Isabelle.
- Prazer – disse ela.
O bec acabou e deixamos a ponta pra Jah. Já
estava perto das 18h00, o sol se pondo e os caras estavam com uma preguiça de
irem embora.
- Fiquem aí, trocando idéia. – disse eu.
- Precisamos mesmo ir.
- Ah, pode crer – falei me levantando, Isabelle
se levantou comigo para se despedir dos camaradas.
Pegueis três pulseiras e dei uma de presente
para cada. O Pedro, se não me engano, o cara da prancha, me deu cincão e eu
disse que não precisava, mas ele insistiu, e fiquei com a grana do cara. Aquilo
pagaria o bec, talvez. Não sei ao certo porque ele me deu a grana. Me despedi
deles com um abraço e cada um e um forte aperto de mão.
- Colem aí amanhã. Estarei... –olhei para
Isabelle que se despedia de um dos cabeludos – Estaremos aqui amanhã, amanhã,
hien?
Aí eu conto para vocês a história dos meus livros, e quem sabe vocês não curtem e levam um.
Aí eu conto para vocês a história dos meus livros, e quem sabe vocês não curtem e levam um.
- Pode deixar. Amanhã colaremos aí com uma
grana.
- Demorou, então, brother. Fiquem na paz.
Prazer em conhecê-los.
Eles foram embora, e o dia estava começando a
ir embora. Embrulhei tudo e ainda continuamos ali no nosso espaço vendo o crepúsculo.
Senti uma pontada de emoção e meus olhos se umedeceram mais que o normal, eu
não iria chorar, mas estava emocionado.
- Se lembra quando a gente imaginava viver isso
juntos, quando a gente começou a namorar?
- Aham... – ela me disse.
- É tudo real... – eu falei e fui me abraçar
junto com ela. Cheguei para perto de sua orelha e repeti: - é tudo real. – Dei
um beijo no ombro dela e ficamos ali. Ela olhava para o nada como tinha maneira
de fazer desde que a conheci. – Agora você tem uma desculpa para esse seu
estado meditativo – disse a ela.
- Como assim? – ela me perguntou.
- Você pode olhar o sol se por, acho que foi
para isso que você tem essa coisa, é para ver o sol se por, ou o sol nascer.
Ela deu um sorriso silencioso. Continuei
abraçado com ela. E a apartei. Ela virou o rosto para mim. Seus olhos castanhos
eram tão precisos, tão exatos, que não negava ser uma cirurgiã. Dei um beijo
nela de língua, e nos deitamos na areia.
Depois comemos algo que ela trouxe, porque
ficamos com uma baita de uma fome, comi duas maçãs e ela um lanche com pão
francês, o qual dei algumas mordidas. O tempo passava lentamente quando eu
estava com ela, mas com uma intensidade assustadora.
Acabamos de fazer amor. Ela está deitada ao meu
lado dormindo agora, porque estava um pouco chapada. Aproveitei a brisa e
comecei a escrever essas páginas que já passam do limite. Já devem ser
meia-noite, minha mão está doendo, a lua se paira no céu, minguante ou
crescente, não tenho certeza, o mar engole mais a praia que o comum, e já é
hora de dormir. Vou acordar Isa e vamos montar a barraca que ela trouxe.
Porque, amanhã é mais um dia para se curtir a liberdade.
Boa
noite.