Dedico este conto
à Fernanda Paes.
Espero que goste, Fer.
Gota... você é do caralho, cara.
Depois te explico.
Inconsciência.
I
- EU TE AMO.
Embora nada
comece aqui com essa frase, ela foi fundamental para que o desfecho se fizesse.
Ao dizê-lo, se visse o reflexo empalidecido pelo feixe prateado da lua no vidro
da janela no quarto se espantaria com o próprio sorriso, mas agora não
importava. Havia conseguido o que queria. Estava feito.
Érica Gordon
sentada numa cadeira na calçada da Coffey’s o viu atravessando a rua
apressadamente. Ele olhava para trás por cima do ombro antes de sumir na
esquina, seu moletom preto aberto que ia até o meio das coxas, o capuz caído
nas costas balançando às passadas rápidas. Ela levantou-se, mexeu casualmente
os óculos escuros, pegou a bolsa e examinou o ambiente, tomou o mesmo curso do
rapaz atravessando a faixa de pedestres, a sombra longa sumindo e misturando-se
às demais.
Não era a
primeira, quinta ou décima vez que ele o fazia. Não parava para observá-lo
sempre – na verdade era a primeira vez que o fazia de propósito-, mas já o
havia visto e simplesmente achara curioso. Ele seria tomado como um drogado ou
traficante considerando o lugar em que jogava displicentemente o saco de papel
naquele lugar escuro, entre as casas, com intervalo mínimo de um metro para
passar, contaminado por lixo, e voltava a andar com as mãos nos bolsos do jeans. Era sempre num saco de papel,
daqueles, de balas de cinco centavos que se acha aos montes nas calçadas de escolas.
Aliás, era de lá que ele conseguira tantos.
Atravessou a rua,
procurando-o em meio aos pedestres, observando se ia para o lugar de sempre. E
ele ia. Ele olhou para trás, certificando-se de que ninguém estava no seu
encalço. Embora Érica estivesse, não era exatamente ela que ele procurava,
talvez nem soubesse quem ela era. Sem preocupação de ser notada ou não,
continuou caminhando pela calçada. Perdê-lo de vista agora não faria diferença.
Ela sabia exatamente para onde ele iria.
Não havia motivos
óbvios para que ele o fizesse. Mais estranho ainda é o fato de que ele não era
– de certo modo - um ladrão. Ele apenas pegava tudo, deixava a troca e ensacava
no papel, mas Érica queria ter certeza e se a tivesse, precisaria se aproximar
dele. Vale a pena, pensou ela seguindo o caminho, vou conseguir, concluiu
sentindo um riso fino esboçar-se na face. Ele desapareceu atrás do muro branco
de uma casa ao dobrar a esquina.
II
- A QUESTÃO É
quem matou quem – disse o policial Andersen tirando os olhos da janela de seu
escritório, cruzando o olhar com seu parceiro Clyde, fazendo uma pausa- ... se
é que houve morte – disse concluindo. Recostou o cotovelo na mesa, depois
deixou as mãos no queixo, realmente conjeturando hipóteses.
Ao que notou nos
olhos de Clyde, ele mencionara o obvio.
- Houve morte,
Watson, e nós dois sabemos disso. E não tem questão alguma. O assunto não é
mais nosso. – Falou depois dando um suspiro. – Você tem mais Plets?
Andersen
desajeitado esticou a perna no azulejo recém aromatizado comprimindo-se no
espaldar de espuma de sua cadeira e arrancou os saquinhos do bolso e arremessou
duas embalagens azuis retirando uma para si. Odiava aquele cheiro de lavanda,
dava dores de cabeça. Principalmente quando ia escrever alguma ocorrência.
- Tenho que terminar
o relatório – comentou Clyde mais para si mesmo que para Andersen. Gostava
bastante de Andersen, mas no momento não estava com paciência para brincar de
personagem de Conan Doyle, só queria um pouco de sossego antes do próximo telefonema.
- Ao que consta,
os dois se encontravam no apartamento da senhorita... – ergueu os olhos para a
papelada em cima da mesa, puxando um documento – Gordon, às quintas à noite,
mais frequentemente às 22h. Aquele puto comia ela, na certa.
Clyde dera um
suspiro de impaciência, os antebraços recostados nos joelhos, inclinado para
frente.
- Você está louco
para depor no jornal, não é? – perguntou em tom de zombaria mascando as
pastilhas. Andersen mostrara um riso, cogitando a idéia inclinando a cabeça
para o lado.
Erguendo-se da
cadeira, deixando o plástico do chiclete no canto da mesa, Clyde ajeitou antes
de sair o relógio redondo cuja figura de um cão, conforme o angulo que tomasse,
mudava de posição. Andersen fora adestrador de cães antes de ser
policial.
Andersen continuara
divagando, olhando para outra mulher de calça de lycra que passava correndo
pela calçada ao lado do gramado. -
Sabe, cara, ainda estão procurando um dos corpos pelo menos. Só havia roupa no
chão o que não prova nada – especulou ainda olhando através do vidro escuro,
Clyde o deixara só. – Clyde?
III
Porém, ao Gordon
dobrar a esquina passando pelo muro branco, notara que o homem subitamente
sumira. Retirou os óculos escuros olhando para trás e depois para frente,
procurando-o na rua deserta. Um calafrio passou pelo seu corpo. Então correu
até o lugar em que ele levava os sacos de papel, segurando os óculos escuros na
mão. Não viu ou ouviu nada na penumbra daquele beco a não ser a janela com uma
atmosfera sinistra na parede esquerda com seu vidro temperado empoeirado. Com
apenas seu olfato notara o mofo e fezes de rato que propagavam um cheiro
nauseabundo. Ele possivelmente está lá dentro, pensou ela olhando o vitral
fechado, procurando movimento no lado de dentro.
Escutou alguém
atrás de si e viu a sombra projetada na parede, cobrindo a sua. Uma mão pesada
pousara em seu ombro.
Seu coração dera
um estalo e desatara a acelerar dando-lhe a sensação de formigamento no corpo
inteiro, os joelhos vacilaram e a pressão caíra. Quase soltou um grito, mas uma
bolha que subira estômago acima entalara a garganta. Ao que rodou nos
calcanhares, viu as paredes das casas tremerem na visão enfraquecida, foi tudo
em câmera lenta. Vislumbrou a rua
deserta se sentindo insegura e tonta, a visão periférica desenhando a imagem
da blusa negra e um sorriso no rosto dele. Virou por completo, fora seguida e
enganada. Estava sério. Exalava um perfume cítrico que pelo susto ou não,
dera-lhe uma estranha sensação de prazer.
Eles se
encontraram.
IV
Quando criança,
era mais fácil controlar o ímpeto. Ele apenas ficava fitando hipnoticamente
quando estava próximo, arranhando qualquer plataforma, contendo-se, mordendo o
lábio inferior com força. Seus momentos de tortura o deflagravam quando ia
sozinho até o centro da cidade no ônibus, desviava o olhar para a paisagem que
corria ao lado de fora, procurando pensar em outra coisa para abstrair o som
interior e não fazer nada errado. Porém, com o tempo já não hesitava, seu
preparo fora fraquejando. A primeira vez que o fez porque queria, sentiu a euforia
de um viciado em crack ao abrir o pacote com a droga.
Seus pais sempre
souberam que ele tinha aquele problema do apego compulsivo por alguém, que o
Dr. Henry julgara como uma espécie de boderline, entretanto, nunca
identificaram o outro problema, pois ele se policiava próximo aos outros.
- O transtorno
que o filho de vocês sofre, senhor e senhora Zimmer, é um tanto delicado – fez
uma pausa arrumando os óculos, organizando mentalmente o prognóstico. - Temos
de ser bastante rígidos e disciplinados, para que possamos curá-lo com
eficácia. Afastem o cão antes que ele o mate ou receba uma mordida que possa
traumatizá-lo, pois continuará fazendo de vítima o animal enquanto não darem a
atenção que quer, e realmente não devem fazê-lo.
Fez uma pausa
colocando o jaleco branco como osso, os óculos fundo-de-garrafa pendentes no
nariz fino.
- Ele precisa de
uma independência. Vou utilizar um método, que tal como os responsáveis pelo
meu último paciente, cuja síndrome era menos crucial, acharão cruel.
Os pais dele
concordaram assentindo com a cabeça.
***
Allex Zimmer
passara a freqüentar a terapia intensiva internado na clínica do Dr. Henry.
Depois de quatro meses ele já estava pronto para viver novamente. Havia
queimaduras em seu corpo.
- Devem manter
longe dele os utensílios cortantes. Em casos como o boderline, a pessoa pode
tentar manipular o próximo, mas agora, reduzi o ponto fraco a 2% - demonstrou
um sorriso de triunfo. A Sra Zimmer escondia a vontade de chorar.
Allex depois que
fora morar longe dos pais, já estava curado hipoteticamente. As chances de ter
a terapia quebrada, eram de 1%. Seu tratamento consistia em bloquear
psicologicamente o maior apego, ensinado como agir e o que dizer nas mais
variadas circunstancias gerando um desvio da atenção, porém, mesmo que o método
impedisse, havia um ponto fraco. Infelizmente ensinar o método do desapego a
Allex era necessário, um mal necessário, pensou o Dr. Henry ao ligar o
dispositivo de choque. Do contrario ele poderia ter problemas sociais, tornar-se-ia
um sociopata, provocando, na vida da pessoa em que sua compulsão adejaria suas
garras, problemas sérios de convívio ou assassinatos, em casos crônicos.
- Não obstante,
na psicologia existe o que chamamos de “válvula-de-escape”, como quando pessoas
tristes escrevem elegias ou quando muito queremos algo e passamos a desenhar o
objeto de desejo. Coloquem o garoto em aulas particulares de música, as artes
marciais também ajudam a equilibrar o psicológico.
Era realmente bom
no tatame, mas sempre recusava-se a representar a equipe nos
inter-escolares do ensino médio. Durante o tratamento, sua agressividade e
distúrbios foram enterrados com 99,35% de eficácia: nunca mais torturara seu
cachorro e nunca mais mandara a mãe tomar no cu. Depois de adulto nunca mais
praticara. Consequentemente, voltara à sua verdadeira válvula-de-escape e
passara a possuir sacos de papel. Era o menos suspeito a se fazer. Ele adorava
sentir o peso dentro do saquinho.
V
Por volta das 17h
ele saíra do trabalho tornando-se mais um membro do fluxo de pessoas, diversas
pessoas cuja fisionomia nunca guardava, excetuando as moças do posto de
gasolina mais próximo. O céu mostrava-se pouco manchado por nuvens, as poucas
que haviam já assumiam o tom róseo do fim da tarde anunciado pelo sol o qual
projetava compridas sombras pelo concreto das calçadas e asfalto.
Costumava-se a andar centrado nos
próprios pensamentos olhando as chagas no chão, a blusa negra batendo os botões
de pressão mal-fechados, aquele som de metal incomodava-o como o cheiro de
fumaça. Pousou as mãos nos botões e os fechara com um click.
Allex que seguia
sua tarde de maneira rotineira, iria para casa tomar um banho, depois sairia
buscar um lanche, voltaria para casa e assistiria ao noticiário, no entanto,
algo – ou melhor, alguém - mudara seus planos mais adiante. De súbito sentiu
nos olhos o reflexo pálido congelando seus nervos subindo-lhe a sensação de
adrenalina das pontas dos dedos até o antebraço, subindo até os ombros e
transbordando no corpo, ele olhou, erguendo as sobrancelhas, fitando
diretamente, estavam lá. Ele abriu um dos bolsos procurando alguma coisa e
aproximou-se do posto de gasolina dando um passo mais largo diante da
frentista, esta erguera o pescoço fitando-o dos pés à cabeça.
O motorista
partiu dizendo alguma coisa a frentista, despedindo-se com uma buzinada breve,
Zimmer seguindo o carro com o olhar. Depois voltou-se para Alice, a frentista
loira com o boné de aba entortada e lábios salientes sem maquiagem alguma.
- Olá, Alice,
como vão as coisas?
- Ótimas, Allex e
com você? – perguntou ela olhando novamente para o chão, depois deu de ombros e
pôs a olhá-lo com atenção.
Ele assentiu
positivamente.
- Soube que
vão fechar o posto...
- É sim. O Sr.
Moore vendeu o lugar para uma companhia imobiliária.
- Vi no jornal
que vai ser algum prédio comercial – falou ele acenando para a outra frentista
que estava atrás do capô levantado de um Chevrolet, ela acenou de volta com o
medidor de óleo na mão.
- Pois é.
- Já sabe o que
vai... – interrompeu-se como que se recebesse uma interferência no pensamento.
- Escute, Alice, não vai atender o telefone?
- Mas ele não
está... – o telefone começara a tilintar. – Como é que faz isso? É algum
vidente? – perguntou ela rindo entrando no pequeno escritório atrás de si.
Ele ria também,
mas seu motivo outro. Era melhor.
Ao que voltou,
Alice veio dizendo:
- Alguma criança
brincando de passar trote...
Mas ele já havia
saído.
***
Agora andava
apressadamente, algum senhor o vira e gritara para parar, ele olhara para trás
e esbarrara em alguém, escutou o senhor chamando-o novamente e dobrara a
esquina.
Estava com suas
preciosidades, mexia com elas dentro do bolso, dentro do saquinho de papel
amassado, depois, sem olhar diretamente, mas a vendo lá sentada na Coffey’s ele
as soltara, retirando a mão do bolso do moletom. Continuou apressadamente,
olhando para trás afim de certificar-se de que ninguém estivesse atrás,
paranóico. Não era a primeira vez que ela o vira numa ocasião desta e sabia
também que não era coincidência, voltaria mais tarde para casa hoje, ela o
seguiria, não há importância, pensou ele.
Tenho que
protegê-las, tenho que protegê-las, pensou. Dobrou a novamente a esquina, o sol
batendo-lhe na face esquerda. Olhou para trás, viu que ela estava próxima.
Essa
desgraçada.
Passou a casa de
muro branco e habilmente saltara muro adentro, agachando-se, fitando por entre
as frestas minúsculas. A moça passou, ele pôde escutar. Notou que ela correra
até onde seu tesouro estava enterrado. Correu furtivamente, ela estava de
costas, subiu a cerca da casa vizinha, passou para a calçada, o deslizando,
pisando do calcanhar ao peito do pé à ponta dos dedos, lentamente. Ao que
chegou do lado dela, o fez tão rápido, inaudível, depois pousou pesadamente as
mão no ombro delicado dela.
Ela virara-se
bruscamente. Eles se fitaram.
VI
- Não precisa
ficar assustada – disse ele a Érica, ainda sentindo seu ombro feminino e leve
como uma pluma, tão delicado a maneira que todos as garotas deveriam ser. A
maneira que eu gosto, pensara ele, mas não diga isso a ela. Ele tentara
demonstrar um sorriso leve e simpático e os olhos dela ficaram mais calmos.
Aquele cheiro que deveria
perturbá-la a recompôs, seu coração desacelerara, mas ainda pulsava fortemente,
ela deu um passo para trás desvencilhando-se da pesada mão, agora, frente a
frente ele parecia maior, chegava a ter 1,89 m.
Ele esperou ela
dizer alguma coisa fitando-a, a rua estava deserta e já estava próximo de
escurecer, havia uma vermelhidão à oeste, o semicírculo tornando-se uma mancha
no céu propagando a luz rasteira. Ela permanecia em silêncio, mas já não
aparentava estar mais assustada.
Zimmer sabia
exatamente o que fazer, mas fora surpreendido:
- Vamos sair
daqui, este lugar fede – disse ele sugerindo o caminho com a cabeça.
Por que ele está me
tratando assim?, pensou ela olhando pelo rabo do olho e seguindo o caminho à
esquerda, eu o segui, era para ele estar me fazendo um questionário, espero que
não saiba o que pretendo, mas é claro que ele sabe!
-... azer. – ele
estendeu a palma da mão a ela.
- Desculpe?
- Eu disse que
meu nome é Allex Zimmer, muito prazer.
- Gordon, Érica
Gordon – mas ela não pegou na mão dele, apenas ficara olhando adiante enquanto
caminhava, refletindo.
O que Allex
pensaria se ela dissesse que precisaria ir? Melhor não dizer nada, pensou, céus
eu preciso sair dessa rua, no que fui me meter? Não! Vale a pena. Sei que vale.
- Sabe, eu não sou nenhum cara famoso –
continuou ele colocando as mãos nos bolsos da calça, o vento quente vindo
lentamente contra o rosto com um cheiro de poluição.
- Por que está dizendo isso?
- Porque está curiosa ao meu respeito. Não é a
primeira vez que te vejo, entende? Sinto uma sensação de desconforto quando
você fica me observando passar – disse olhando-a buscando alguma reação, era
tão pequena ao seu lado.
Ele está estudando minha emoção, não vou
dar-lhe o prazer de saber, mas e agora o que eu digo?, um resquício de
nervosismo passara por sua coluna, arrepiando-a, mas ela controlou a reação.
Érica parou na calçada, a sua frente o
horizonte semi-estrelado semi-ensolarado, as sombras na rua perdendo forma e
força, ele prosseguira mais dois metros a sua frente depois virou-se para
fitá-la, atrás dela, a rua deserta parecia prosseguir quilômetros.
- Algum problema? – disse ele voltando um
passo, o cenho franzido.
- Me beije.
- O que está dizendo? O que diabos está
dizendo, Érica?
- Me beije agora – ela aproximou-se, erguendo
o pescoço sentindo o perfume cítrico, excitando-se.
Ele estava perplexo, o cenho ainda franzido,
ela passou a mão por dentro da blusa e o abraçou, o rosto voltado para
cima fitando-o, ela era mais baixa, ele sentia a delicadeza de suas mãos
tocando-o.
O que diabos está acontecendo, Allex?,
perguntou-se. Sentiu-se incomodado por dentro da cueca a media em que ela
acariciava suas costas.
Por que ela está fazendo isso? Eu
deveria? Imagem do Dr. Henry segurando o dispositivo elétrico aparecera em sua
mente.
Por dentro, Érica sorria, seu plano começara.
Iria ter certeza.
VII
O chão do apartamento de Érica Gondon estava
recém encerado, a madeira reluzia o reflexo da luz que vinha do lado de fora, o
cômodo estava escuro.
Hunton fazia anotações ao lado do portal de
entrada. Junto ao seu distintivo no peito esquerdo, pendia um broche de
gratificação – o que lhe rendeu uma boa recompensa – de um caso que havia
resolvido dois anos antes. Lá embaixo Andersen era impedido de entrar, pois o
caso não era seu. Hunton escolheu caso fechado quando aceitou a proposta, mas
Andersen estava pouco se fodendo para isso, estava disposto a fazer sozinho com
os próprios métodos, ele ainda tinha a esperança de ser reconhecido na Equipe
de Inteligência.
O cômodo da sala estava arrumado de maneira impecável,
Hunton descreveu em seu relatório que o possível homicídio não ocorrera ali,
mas não descartou a hipótese de que se permaneceram ali no início da noite,
muito embora, ao acabar de acender a luz para descrever as últimas linhas notou
uma peculiaridade nela, corrigiu a parte do relatório citando que haveria 80%
de chance de que eles não haviam permanecido ali.
Hunton caminhou pela sala passando pela
poltrona que admirara, invadindo um pequeno hall cuja a porta a direita levava
a um banheiro onde foram achadas duas camisinhas na pia com as bolsas de sêmen
cheias. Depois, chegou ao quarto onde antes encontrara roupas jogadas no chão
ao pé da cama desarrumada. Nos lençóis encontraram o sangue dela o qual fora
certificado por um este de DNA, porém a quantidade era mínima. Ela sangrara
durante o sexo, isso não fazia de Allex Zimmer um culpado. Ao recordar-se
disso, voltou as páginas na prancheta, confirmando a idade de Érica: 19 anos.
O policial andou até a janela que propagava o
reflexo no chão polido e olhou para fora guardando no bolso do uniforme a
caneta, o que viu foi a paisagem da cidade, ali do oitavo andar era possível
ver o completo movimento da rua 81 onde comprava o capuccino na Coffey’s antes
de ir fazer o relatório do caso Zimmer Gordon.
Lá embaixo, Andersen não poderia subir para
trocar uma palavra com o Sr. Hunton e ficara com raiva. Clyde também não o ajudava
em nada. Ele tinha alguma idéia onde encontrar – morto ou vivo – Allex Zimmer,
mas ninguém o escutava.
Eu posso ir preso e ser exonerado,
mas descubro onde estão os filhos da puta, pensou saindo da calçada do prédio.
Hunton voltou-se da janela e viu algo embaixo
da cama, agachou e retirou o saco de papel, amassando-o e guardando no bolso.
Nas mãos de Andersen aquilo faria mais sentido; nas mãos de Allex mais ainda e
com um sorriso no rosto.
*Continua*