quarta-feira, 7 de março de 2012

Conto 1 - Inconsciência


Dedico este conto 
  à Fernanda Paes.
Espero que goste, Fer.
Gota... você é do caralho, cara.
Depois te explico.

Inconsciência.

                       
I
            - EU TE AMO.
Embora nada comece aqui com essa frase, ela foi fundamental para que o desfecho se fizesse. Ao dizê-lo, se visse o reflexo empalidecido pelo feixe prateado da lua no vidro da janela no quarto se espantaria com o próprio sorriso, mas agora não importava. Havia conseguido o que queria. Estava feito.
Érica Gordon sentada numa cadeira na calçada da Coffey’s o viu atravessando a rua apressadamente. Ele olhava para trás por cima do ombro antes de sumir na esquina, seu moletom preto aberto que ia até o meio das coxas, o capuz caído nas costas balançando às passadas rápidas. Ela levantou-se, mexeu casualmente os óculos escuros, pegou a bolsa e examinou o ambiente, tomou o mesmo curso do rapaz atravessando a faixa de pedestres, a sombra longa sumindo e misturando-se às demais.
Não era a primeira, quinta ou décima vez que ele o fazia. Não parava para observá-lo sempre – na verdade era a primeira vez que o fazia de propósito-, mas já o havia visto e simplesmente achara curioso. Ele seria tomado como um drogado ou traficante considerando o lugar em que jogava displicentemente o saco de papel naquele lugar escuro, entre as casas, com intervalo mínimo de um metro para passar, contaminado por lixo,  e voltava a andar com as mãos nos bolsos do jeans. Era sempre num saco de papel, daqueles, de balas de cinco centavos que se acha aos montes nas calçadas de escolas. Aliás, era de lá que ele conseguira tantos.
Atravessou a rua, procurando-o em meio aos pedestres, observando se ia para o lugar de sempre. E ele ia. Ele olhou para trás, certificando-se de que ninguém estava no seu encalço. Embora Érica estivesse, não era exatamente ela que ele procurava, talvez nem soubesse quem ela era. Sem preocupação de ser notada ou não, continuou caminhando pela calçada. Perdê-lo de vista agora não faria diferença. Ela sabia exatamente para onde ele iria.
Não havia motivos óbvios para que ele o fizesse. Mais estranho ainda é o fato de que ele não era – de certo modo - um ladrão. Ele apenas pegava tudo, deixava a troca e ensacava no papel, mas Érica queria ter certeza e se a tivesse, precisaria se aproximar dele. Vale a pena, pensou ela seguindo o caminho, vou conseguir, concluiu sentindo um riso fino esboçar-se na face. Ele desapareceu atrás do muro branco de uma casa ao dobrar a esquina.


II

- A QUESTÃO É quem matou quem – disse o policial Andersen tirando os olhos da janela de seu escritório, cruzando o olhar com seu parceiro Clyde, fazendo uma pausa- ... se é que houve morte – disse concluindo. Recostou o cotovelo na mesa, depois deixou as mãos no queixo, realmente conjeturando hipóteses.
Ao que notou nos olhos de Clyde, ele mencionara o obvio.
- Houve morte, Watson, e nós dois sabemos disso. E não tem questão alguma. O assunto não é  mais nosso. – Falou depois dando um suspiro. – Você tem mais Plets?
Andersen desajeitado esticou a perna no azulejo recém aromatizado comprimindo-se no espaldar de espuma de sua cadeira e arrancou os saquinhos do bolso e arremessou duas embalagens azuis retirando uma para si. Odiava aquele cheiro de lavanda, dava dores de cabeça. Principalmente quando ia escrever alguma ocorrência.
- Tenho que terminar o relatório – comentou Clyde mais para si mesmo que para Andersen. Gostava bastante de Andersen, mas no momento não estava com paciência para brincar de personagem de Conan Doyle, só queria um pouco de sossego antes do próximo telefonema.
- Ao que consta, os dois se encontravam no apartamento da senhorita... – ergueu os olhos para a papelada em cima da mesa, puxando um documento – Gordon, às quintas à noite, mais frequentemente às 22h. Aquele puto comia ela, na certa.
Clyde dera um suspiro de impaciência, os antebraços recostados nos joelhos, inclinado para frente.
- Você está louco para depor no jornal, não é? – perguntou em tom de zombaria mascando as pastilhas. Andersen mostrara um riso, cogitando a idéia inclinando a cabeça para o lado.
Erguendo-se da cadeira, deixando o plástico do chiclete no canto da mesa, Clyde ajeitou antes de sair o relógio redondo cuja figura de um cão, conforme o angulo que tomasse, mudava de posição.     Andersen fora adestrador de cães antes de ser policial.
Andersen continuara divagando, olhando para outra mulher de calça de lycra que passava correndo pela calçada ao lado do gramado.     - Sabe, cara, ainda estão procurando um dos corpos pelo menos. Só havia roupa no chão o que não prova nada – especulou ainda olhando através do vidro escuro, Clyde o deixara só. – Clyde?

III

Porém, ao Gordon dobrar a esquina passando pelo muro branco, notara que o homem subitamente sumira. Retirou os óculos escuros olhando para trás e depois para frente, procurando-o na rua deserta. Um calafrio passou pelo seu corpo. Então correu até o lugar em que ele levava os sacos de papel, segurando os óculos escuros na mão. Não viu ou ouviu nada na penumbra daquele beco a não ser a janela com uma atmosfera sinistra na parede esquerda com seu vidro temperado empoeirado. Com apenas seu olfato notara o mofo e fezes de rato que propagavam um cheiro nauseabundo. Ele possivelmente está lá dentro, pensou ela olhando o vitral fechado, procurando movimento no lado de dentro.
Escutou alguém atrás de si e viu a sombra projetada na parede, cobrindo a sua. Uma mão pesada pousara em seu ombro.
Seu coração dera um estalo e desatara a acelerar dando-lhe a sensação de formigamento no corpo inteiro, os joelhos vacilaram e a pressão caíra. Quase soltou um grito, mas uma bolha que subira estômago acima entalara a garganta. Ao que rodou nos calcanhares, viu as paredes das casas tremerem na visão enfraquecida, foi tudo em câmera lenta.         Vislumbrou a rua deserta se sentindo insegura e tonta, a visão periférica  desenhando a imagem da blusa negra e um sorriso no rosto dele. Virou por completo, fora seguida e enganada. Estava sério. Exalava um perfume cítrico que pelo susto ou não, dera-lhe uma estranha sensação de prazer.
Eles se encontraram.

IV

Quando criança, era mais fácil controlar o ímpeto. Ele apenas ficava fitando hipnoticamente quando estava próximo, arranhando qualquer plataforma, contendo-se, mordendo o lábio inferior com força. Seus momentos de tortura o deflagravam quando ia sozinho até o centro da cidade no ônibus, desviava o olhar para a paisagem que corria ao lado de fora, procurando pensar em outra coisa para abstrair o som interior e não fazer nada errado. Porém, com o tempo já não hesitava, seu preparo fora fraquejando. A primeira vez que o fez porque queria, sentiu a euforia de um viciado em crack ao abrir o pacote com a droga.
Seus pais sempre souberam que ele tinha aquele problema do apego compulsivo por alguém, que o Dr. Henry julgara como uma espécie de boderline, entretanto, nunca identificaram o outro problema, pois ele se policiava próximo aos outros.
- O transtorno que o filho de vocês sofre, senhor e senhora Zimmer, é um tanto delicado – fez uma pausa arrumando os óculos, organizando mentalmente o prognóstico. - Temos de ser bastante rígidos e disciplinados, para que possamos curá-lo com eficácia. Afastem o cão antes que ele o mate ou receba uma mordida que possa traumatizá-lo, pois continuará fazendo de vítima o animal enquanto não darem a atenção que quer, e realmente não devem fazê-lo.
Fez uma pausa colocando o jaleco branco como osso, os óculos fundo-de-garrafa pendentes no nariz fino.
- Ele precisa de uma independência. Vou utilizar um método, que tal como os responsáveis pelo meu último paciente, cuja síndrome era menos crucial, acharão cruel.
Os pais dele concordaram assentindo com a cabeça.

***

Allex Zimmer passara a freqüentar a terapia intensiva internado na clínica do Dr. Henry. Depois de quatro meses ele já estava pronto para viver novamente. Havia queimaduras em seu corpo.
- Devem manter longe dele os utensílios cortantes. Em casos como o boderline, a pessoa pode tentar manipular o próximo, mas agora, reduzi o ponto fraco a 2% - demonstrou um sorriso de triunfo. A Sra Zimmer escondia a vontade de chorar.
Allex depois que fora morar longe dos pais, já estava curado hipoteticamente. As chances de ter a terapia quebrada, eram de 1%. Seu tratamento consistia em bloquear psicologicamente o maior apego, ensinado como agir e o que dizer nas mais variadas circunstancias gerando um desvio da atenção, porém, mesmo que o método impedisse, havia um ponto fraco. Infelizmente ensinar o método do desapego a Allex era necessário, um mal necessário, pensou o Dr. Henry ao ligar o dispositivo de choque. Do contrario ele poderia ter problemas sociais, tornar-se-ia um sociopata, provocando, na vida da pessoa em que sua compulsão adejaria suas garras, problemas sérios de convívio ou assassinatos, em casos crônicos.
- Não obstante, na psicologia existe o que chamamos de “válvula-de-escape”, como quando pessoas tristes escrevem elegias ou quando muito queremos algo e passamos a desenhar o objeto de desejo. Coloquem o garoto em aulas particulares de música, as artes marciais também ajudam a equilibrar o psicológico.
Era realmente bom no tatame, mas sempre recusava-se  a representar a equipe nos inter-escolares do ensino médio. Durante o tratamento, sua agressividade e distúrbios foram enterrados com 99,35% de eficácia: nunca mais torturara seu cachorro e nunca mais mandara a mãe tomar no cu. Depois de adulto nunca mais praticara. Consequentemente, voltara à sua verdadeira válvula-de-escape e passara a possuir sacos de papel. Era o menos suspeito a se fazer. Ele adorava sentir o peso dentro do saquinho.



V

Por volta das 17h ele saíra do trabalho tornando-se mais um membro do fluxo de pessoas, diversas pessoas cuja fisionomia nunca guardava, excetuando as moças do posto de gasolina mais próximo. O céu mostrava-se pouco manchado por nuvens, as poucas que haviam já assumiam o tom róseo do fim da tarde anunciado pelo sol o qual projetava compridas sombras pelo concreto das calçadas e asfalto.
Costumava-se a andar centrado nos próprios pensamentos olhando as chagas no chão, a blusa negra batendo os botões de pressão mal-fechados, aquele som de metal incomodava-o como o cheiro de fumaça. Pousou as mãos nos botões e os fechara com um click.
Allex que seguia sua tarde de maneira rotineira, iria para casa tomar um banho, depois sairia buscar um lanche, voltaria para casa e assistiria ao noticiário, no entanto, algo – ou melhor, alguém - mudara seus planos mais adiante. De súbito sentiu nos olhos o reflexo pálido congelando seus nervos subindo-lhe a sensação de adrenalina das pontas dos dedos até o antebraço, subindo até os ombros e transbordando no corpo, ele olhou, erguendo as sobrancelhas, fitando diretamente, estavam lá. Ele abriu um dos bolsos procurando alguma coisa e aproximou-se do posto de gasolina dando um passo mais largo diante da frentista, esta erguera o pescoço fitando-o dos pés à cabeça.
O motorista partiu dizendo alguma coisa a frentista, despedindo-se com uma buzinada breve, Zimmer seguindo o carro com o olhar. Depois voltou-se para Alice, a frentista loira com o boné de aba entortada e lábios salientes sem maquiagem alguma.
- Olá, Alice, como vão as coisas?
- Ótimas, Allex e com você? – perguntou ela olhando novamente para o chão, depois deu de ombros e pôs a olhá-lo com atenção.
Ele assentiu positivamente.
 - Soube que vão fechar o posto...
- É sim. O Sr. Moore vendeu o lugar para uma companhia imobiliária.
- Vi no jornal que vai ser algum prédio comercial – falou ele acenando para a outra frentista que estava atrás do capô levantado de um Chevrolet, ela acenou de volta com o medidor de óleo na mão.
- Pois é.
- Já sabe o que vai... – interrompeu-se como que se recebesse uma interferência no pensamento. - Escute, Alice, não vai atender o telefone?
- Mas ele não está... – o telefone começara a tilintar. – Como é que faz isso? É algum vidente? – perguntou ela rindo entrando no pequeno escritório atrás de si.
Ele ria também, mas seu motivo outro. Era melhor.
Ao que voltou, Alice veio dizendo:
- Alguma criança brincando de passar trote...
Mas ele já havia saído.

***

Agora andava apressadamente, algum senhor o vira e gritara para parar, ele olhara para trás e esbarrara em alguém, escutou o senhor chamando-o novamente e dobrara a esquina.
Estava com suas preciosidades, mexia com elas dentro do bolso, dentro do saquinho de papel amassado, depois, sem olhar diretamente, mas a vendo lá sentada na Coffey’s ele as soltara, retirando a mão do bolso do moletom. Continuou apressadamente, olhando para trás afim de certificar-se de que ninguém estivesse atrás, paranóico. Não era a primeira vez que ela o vira numa ocasião desta e sabia também que não era coincidência, voltaria mais tarde para casa hoje, ela o seguiria, não há importância, pensou ele.
Tenho que protegê-las, tenho que protegê-las, pensou. Dobrou a novamente a esquina, o sol batendo-lhe na face esquerda. Olhou para trás, viu que ela estava próxima.
 Essa desgraçada.
Passou a casa de muro branco e habilmente saltara muro adentro, agachando-se, fitando por entre as frestas minúsculas. A moça passou, ele pôde escutar. Notou que ela correra até onde seu tesouro estava enterrado. Correu furtivamente, ela estava de costas, subiu a cerca da casa vizinha, passou para a calçada, o deslizando, pisando do calcanhar ao peito do pé à ponta dos dedos, lentamente. Ao que chegou do lado dela, o fez tão rápido, inaudível, depois pousou pesadamente as mão no ombro delicado dela.
Ela virara-se bruscamente. Eles se fitaram.

VI

- Não precisa ficar assustada – disse ele a Érica, ainda sentindo seu ombro feminino e leve como uma pluma, tão delicado a maneira que todos as garotas deveriam ser. A maneira que eu gosto, pensara ele, mas não diga isso a ela. Ele tentara demonstrar um sorriso leve e simpático e os olhos dela ficaram mais calmos.
Aquele cheiro que deveria perturbá-la a recompôs, seu coração desacelerara, mas ainda pulsava fortemente, ela deu um passo para trás desvencilhando-se da pesada mão, agora, frente a frente ele parecia maior, chegava a ter 1,89 m.
Ele esperou ela dizer alguma coisa fitando-a, a rua estava deserta e já estava próximo de escurecer, havia uma vermelhidão à oeste, o semicírculo tornando-se uma mancha no céu propagando a luz rasteira. Ela permanecia em silêncio, mas já não aparentava estar mais assustada.
Zimmer sabia exatamente o que fazer, mas fora surpreendido:
- Vamos sair daqui, este lugar fede – disse ele sugerindo o caminho com a cabeça.
Por que ele está me tratando assim?, pensou ela olhando pelo rabo do olho e seguindo o caminho à esquerda, eu o segui, era para ele estar me fazendo um questionário, espero que não saiba o que pretendo, mas é claro que ele sabe!
-... azer. – ele estendeu a palma da mão a ela.
- Desculpe?
- Eu disse que meu nome é Allex Zimmer, muito prazer.
- Gordon, Érica Gordon – mas ela não pegou na mão dele, apenas ficara olhando adiante enquanto caminhava, refletindo.
O que Allex pensaria se ela dissesse que precisaria ir? Melhor não dizer nada, pensou, céus eu preciso sair dessa rua, no que fui me meter? Não! Vale a pena. Sei que vale.
                  - Sabe, eu não sou nenhum cara famoso – continuou ele colocando as mãos nos bolsos da calça, o vento quente vindo lentamente contra o rosto com um cheiro de poluição.
                  - Por que está dizendo isso?
                  - Porque está curiosa ao meu respeito. Não é a primeira vez que te vejo, entende? Sinto uma sensação de desconforto quando você fica me observando passar – disse olhando-a buscando alguma reação, era tão pequena ao seu lado.
                  Ele está estudando minha emoção, não vou dar-lhe o prazer de saber, mas e agora o que eu digo?, um resquício de nervosismo passara por sua coluna, arrepiando-a, mas ela controlou a reação.
                  Érica parou na calçada, a sua frente o horizonte semi-estrelado semi-ensolarado, as sombras na rua perdendo forma e força, ele prosseguira mais dois metros a sua frente depois virou-se para fitá-la, atrás dela, a rua deserta parecia prosseguir quilômetros.
                  - Algum problema? – disse ele voltando um passo, o cenho franzido.
                  - Me beije.
                  - O que está dizendo? O que diabos está dizendo, Érica?
                  - Me beije agora – ela aproximou-se, erguendo o pescoço sentindo o perfume cítrico, excitando-se.
                  Ele estava perplexo, o cenho ainda franzido,  ela passou a mão por dentro da blusa e o abraçou, o rosto voltado para cima fitando-o, ela era mais baixa, ele sentia a delicadeza de suas mãos tocando-o.
                  O que diabos está acontecendo, Allex?, perguntou-se. Sentiu-se incomodado por dentro da cueca a media em que ela acariciava suas costas.
                   Por que ela está fazendo isso? Eu deveria? Imagem do Dr. Henry segurando o dispositivo elétrico aparecera em sua mente.
                  Por dentro, Érica sorria, seu plano começara. Iria ter certeza.

                                                                                 VII

                  O chão do apartamento de Érica Gondon estava recém encerado, a madeira reluzia o reflexo da luz que vinha do lado de fora, o cômodo estava escuro.
                  Hunton fazia anotações ao lado do portal de entrada. Junto ao seu distintivo no peito esquerdo, pendia um broche de gratificação – o que lhe rendeu uma boa recompensa – de um caso que havia resolvido dois anos antes. Lá embaixo Andersen era impedido de entrar, pois o caso não era seu. Hunton escolheu caso fechado quando aceitou a proposta, mas Andersen estava pouco se fodendo para isso, estava disposto a fazer sozinho com os próprios métodos, ele ainda tinha a esperança de ser reconhecido na Equipe de Inteligência.
                  O cômodo da sala estava arrumado de maneira impecável, Hunton descreveu em seu relatório que o possível homicídio não ocorrera ali, mas não descartou a hipótese de que se permaneceram ali no início da noite, muito embora, ao acabar de acender a luz para descrever as últimas linhas notou uma peculiaridade nela, corrigiu a parte do relatório citando que haveria 80% de chance de que eles não haviam permanecido ali.
                  Hunton caminhou pela sala passando pela poltrona que admirara, invadindo um pequeno hall cuja a porta a direita levava a um banheiro onde foram achadas duas camisinhas na pia com as bolsas de sêmen cheias. Depois, chegou ao quarto onde antes encontrara roupas jogadas no chão ao pé da cama desarrumada. Nos lençóis encontraram o sangue dela o qual fora certificado por um este de DNA, porém a quantidade era mínima. Ela sangrara durante o sexo, isso não fazia de Allex Zimmer um culpado. Ao recordar-se disso, voltou as páginas na prancheta, confirmando a idade de Érica: 19 anos.
                  O policial andou até a janela que propagava o reflexo no chão polido e olhou para fora guardando no bolso do uniforme a caneta, o que viu foi a paisagem da cidade, ali do oitavo andar era possível ver o completo movimento da rua 81 onde comprava o capuccino na Coffey’s  antes de ir fazer o relatório do caso Zimmer Gordon.
                  Lá embaixo, Andersen não poderia subir para trocar uma palavra com o Sr. Hunton e ficara com raiva. Clyde também não o ajudava em nada. Ele tinha alguma idéia onde encontrar – morto ou vivo – Allex Zimmer, mas ninguém o escutava.
Eu posso ir preso e ser exonerado, mas descubro onde estão os filhos da puta, pensou saindo da calçada do prédio.
                  Hunton voltou-se da janela e viu algo embaixo da cama, agachou e retirou o saco de papel, amassando-o e guardando no bolso. Nas mãos de Andersen aquilo faria mais sentido; nas mãos de Allex mais ainda e com um sorriso no rosto.

*Continua*