quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

(Trecho) Fotos de suas lágrimas cinzas.


Por um momento a luz apagou.
Fiquei olhando no escuro por alguns segundos. Silêncio. A luz retornou. Levantei-me e fui verificar a lâmpada, subi na cadeira e da cadeira para a mesa. Aparentemente normal. O ar estava parado lá dentro e eu estava sozinho.
Lá fora, na noite, uma fria brisa corria. Cruzei os braços, desviei o olhar das árvores e entrei novamente.
Fechei a porta e fui atrás de um copo d'água. Acabei bebendo da torneira, retornei para a mesa.
O álbum que eu olhava estava fechado. Não me lembro se havia deixado-o naquele estado. Ignorei o pensamento e voltei a ver as fotos.
Revirava as páginas vagarosamente, observando uma a uma. A luz piscou.
Voltei os olhos para a lâmpada, pedindo para que eu não precisasse me mover, que o mal contato se resolvesse sozinho. Dei um gole no café, estava frio.
Depois, fiquei mais de vinte minutos observando as fotos, lendo algumas coisas que estavam escritas a mão, em pedaços de folha de caderno, não conseguia mais chorar por nenhuma delas, mas gostava de vê-las e me sentir aliviado, de alguma forma.
Acendi um cigarro de maconha. Voltei a ver as fotos. Parava nas que mais gostava e silenciosamente, dentro de mim, eu sabia porque eu gostava delas. Joguei as cinzas dentro da chícara vazia. A fumaça dançava pesada a minha frente no ar monótono.
A luz voltou a piscar, ficou alguns segundos acesa e apagou de vez. Puxei um trago e vi a ponta acesa do cigarro carburar. Eu estava relaxado.
Tive preguiça de me levantar. Fiz um esforço.
Desci da cadeira. A fumaça esvaía-se pela janela que abri. Decidi ir lá fora.
Fiquei pensando, chapado, olhando para a lua. Eu não tinha certeza, mas acho que era minguante. Forcei os olhos e uma lágrima escorreu. Sentei-me, limpei-a, e outras mais começaram a sair. Eu soluçava.
"Preciso dormir", pensei. "Amanhã as coisas estarão melhores". Mas eu não queria que estivessem, não admitia.
A luz da lua entrava no meu quarto, eu revia uma das fotos. Deitado, nu, em minha própria cama, sentia falta de alguém ao meu lado. 
Terminei de me masturbar, a intorpecência do orgasmo fazia-me dormir e acabar logo com aquilo.
Acordei com a foto em meu peito e sem perceber, levantei-me e derrubei-a. Contemplei de cima ela me dando um beijo na boca.
Joguei no lixo o que restava dos picotes e cinzas do álbum. Salvei as cartas.
Olhei para a foto de nós nos beijando e guardei-a para sempre.
Fitei o mundo la fora através da janela, e fui viver mais um dia, antes que a luz do sol resolvesse apagar, ou piscar, por algum motivo.